A educação, de forma geral, compreende o processo de desenvolvimento da pessoa em sua globalidade. De modo especial, ela tem o intuito de promover o desenvolvimento dos talentos e habilidades de um indivíduo, para que ele possa viver bem em sociedade e contribuir para o desenvolvimento da mesma. Para os gregos, a educação tinha o objetivo de desenvolver as virtudes, de modo que a pessoa se tornasse um bom cidadão. Já para os romanos, a educação visava ajudar o indivíduo a cultivar o processo de autoaperfeiçoamento para a vida. (Cf. Clemente Ivo Juliatto, A educação nas Escolas Católicas, in Convergência, janeiro/fevereiro 2017, ano LI, n. 498, pp. 89-99.)
Educar é um processo de formar a pessoa para desenvolver suas habilidades, para absolver os valores, para ser cidadã ativa e consciente, capaz de buscar seus direitos e cumprir com seus deveres. Outrossim, lemos na nota conjunta dos dicastérios para a Doutrina da Fé e o Dicastério para a Educação e Cultura, 28/01/2025, Antiqua et Nova, n. 77, que: «a verdadeira educação deve promover a formação da pessoa humana tanto em vista de seu fim último quanto para o bem dos diversos grupos dos quais o ser humano faz parte’. Isso implica que a educação ‘não é um simples processo de transmissão de conhecimentos e habilidades intelectuais; ela visa contribuir para a formação integral da pessoa em suas diferentes dimensões (intelectual, cultural, espiritual…), incluindo, por exemplo, a vida comunitária e as relações vividas dentro da comunidade acadêmica”, sempre respeitando a natureza e a dignidade da pessoa humana».
Educar para o respeito da dignidade humana, para os valores familiares, sociais, éticos, morais e espirituais é um desafio no mundo hodierno, que tem uma forte influência dos meios de comunicação, em especial das mídias sociais, onde as pessoas, por vezes fica mais tempo coligadas na Internet, do que na interação e no diálogo atencioso e presencial com os membros da família e do núcleo de convivência de estudo e trabalho. Isto pode dificultar na transmissão dos valores familiares e também sociais.
A transmissão dos valores sociais, realizada pela família e pela escola, visa formar crianças e jovens para a prática da cidadania e para uma vida ética. A transmissão dos valores éticos favorece a aquisição de parâmetros para a vida social, de modo que a pessoa viva e aja com integridade, tornando-se promotora do bem comum. Já a transmissão dos valores espirituais, para nós cristãos, pretende formar o indivíduo para uma prática consciente da religião e para viver o amor a Deus e ao próximo. Assim, a educação, de forma geral, e também para nós, Cavanis, é exercida com o propósito de formar bons cidadãos e cristãos virtuosos.
O desafio da educação em relação às mídias sociais e à Inteligência Artificial é formar indivíduos com consciência crítica sobre o conteúdo acessado por meio dessas ferramentas, capacitando-os a discernir o que é verdadeiro e bom daquilo que é tendencioso, duvidoso, mentiroso ou fake news. Outro desafio é preparar as pessoas para que não se deixem influenciar ou manipular por ideologias prejudiciais ao ser humano e à sociedade. Nesse sentido, o grande desafio é formar indivíduos capazes de construir uma opinião própria, fundamentada em valores éticos, sociais e espirituais, evitando assim o relativismo exacerbado.
Desse modo, a missão da educação é formar pessoas para saberem se portar e não se percam no mundo digital. Para isso, a educação deve contemplar a formação da mente e do coração dos jovens, assim como já buscavam fazer os fundadores Antônio e Marcos Cavanis em sua época, preparando os jovens para enfrentar e superar as dificuldades do seu tempo.
Para haver uma formação integral, é fundamental a integração entre pais e filhos, bem como entre alunos e professores, de modo que a família e a escola não transmitam apenas conteúdos, mas também valores e senso crítico. A integração fomenta a confiança e a proximidade entre pais e filhos, e entre a escola e os alunos, algo que não pode ser alcançado por meio da Inteligência Artificial. Isso porque, nela, não há presença física, seja dos familiares ou dos professores, deixando o indivíduo sozinho diante da tela. Essa dinâmica não incentiva a empatia e a convivência, que só são plenamente desenvolvidas na proximidade com as pessoas (cf. Antiqua et Nova, nn. 78-79).
Por outro lado, a Inteligência Artificial pode ter um uso positivo quando facilita o acesso rápido a conteúdos, o que pode contribuir para a instrução do aluno. No entanto, tal uso deve ser orientado para formar pessoas capazes de buscar e compreender a verdade com autonomia e liberdade, desenvolvendo nelas o senso crítico. Isso significa prepará-las para discernir as informações que recebem, seja por meio dos olhos ou dos ouvidos, e também para enfrentar a vida e resolver os problemas que surgem em seu itinerário (cf. Antiqua et Nova, nn. 80-85).
De forma sintética, a educação tem a missão de formar as pessoas, especialmente os usuários do mundo digital, para não perderem a capacidade criativa e a habilidade de manter relações empáticas com aqueles que fazem parte dos seus núcleos de convivência. Além disso, cabe à educação desenvolver o senso crítico, capacitando as pessoas a discernir o que é verdadeiro daquilo que é falso, o que é bom daquilo que pode ser prejudicial ao indivíduo e à sociedade. Outra missão fundamental é educar as pessoas para utilizar a Inteligência Artificial de maneira ética. Para que isso aconteça, é necessário estudar e debater o uso da Inteligência Artificial, que, como outras ferramentas, pode ser benéfica ou não. Ser uma ou outra dependerá de como ela é compreendida e utilizada. Enfim, lemos no número 115 de Antiqua et Nova, que: «em um mundo marcado pela IA, precisamos da graça do Espírito Santo, que ‘permite ver as coisas com os olhos de Deus, compreender os vínculos, as situações, os acontecimentos e descobrir o seu sentido’».
Comunicado: Colocamos em oração a reunião do Governo Geral que acontece nesta semana, entre os dias 24 a 28 de fevereiro. Que Deus abençoe todas as decisões a serem tomadas.
Fraternalmente,
Padre Rogério Diesel, CSCh – Superior provincial