O livro do Levítico capítulo 25, na prospetiva do dia sabático e do ano sabático, fala do ano jubilar, quinquagésimo ano, no qual, de forma ideal, se deveria descansar a terra e os animais; os escravos serem libertos, as dívidas serem perdoadas e as terras de quem havia perdido deviam ser recuperadas, fazendo ecoar assim, que «o jubileu lembra que os bens da terra se destinam a todos, e não a poucos privilegiados» (Papa Francisco, Spes Non Confundit, 9 de maio 2024, n. 16).
O ano jubilar começava de forma solene, com o ressoar da trombeta, instrumento feito de chifre de carneiro, yobel, de onde procede o termo jubileu (cf. John L. Mackenzie, “Jubileu”, in Dicionário Bíblico, 4 ed, São Paulo, 1983, pp. 511-512). Para os cristãos invés o ano jubilar não é aberto com o toque da trombeta, mas com uma celebração presidida pelo Papa. Na celebração do ano jubilar na Igreja Católica se concede indulgência plenária dos pecados, ou seja a misericórdia do Pai «alcança o pecador perdoado e liberta-o de qualquer resíduo das consequências do pecado, habilitando-o a agir com caridade, a crescer no amor em vez de recair no pecado» (Papa Francisco, Misericordiae Vultus, 11 de abril 2015, n. 22).
Foi o Papa Bonifácio VIII, com a Bula Antiquorum habet de 22 de fevereiro de 1300, que deu início a celebração do ano jubilar, que proclamava a superioridade do Papa sobre os reis. Com a Bula o Romano Pontífice estabeleceu a frequência de 100 anos para a celebração do ano jubilar e a indulgência plenária dos pecados para os que tivessem confessado, feito penitência e tivesse visitado as Basílicas dos Apóstolo Pedro e Paulo em Roma. Neste sentido, podemos ler em Denzinger – Hünerman, n. 868: «confiando na misericórdia de Deus onipotente e nos méritos e na autoridade dos seus próprios Apóstolos, pelos conselhos dos Nossos irmãos e em virtude da plenitude do poder apostólico, a todos… os que visitam de modo respeitoso estas basílicas e fazem realmente penitência e se tiverem confessado, … neste presente e em qualquer um dos seguintes centenários, concederemos e concedemos não só a plena e mais ampla, mas também a pleníssima indulgência de todos os seus pecados» (Denzinger – Hünerman, Compêndio dos Símbolos, definições e declarações de fé e moral, São Paulo, 2007, n. 868).
O Papa Clemente VI, que estava no exílio em Avinhão (França), reduziu no jubileu de 1350 de 100 para 50 anos o intervalo da celebração jubilar na Igreja. O Papa Paulo II (1464-1471), com a finalidade de atingir o maior número de fiéis com a indulgência, reduziu de 50 para 25 o intervalo da celebração do jubileu. Não obstante a tais intervalos, foram celebrados em anos “extraordinários” 1390, 1933, 1983, 2015-2016 o jubileu e nos anos de 1800, 1850 não foi celebrado; no ano de 1875 não foi efetuado de forma solene, sem a abertura da porta de São Pedro, embora o Papa Pio IX tenha alargado o jubileu para todo o mundo católico. Foi o Papa Alexandre VI que no ano de 1500 inaugurou o rito da abertura da Porta Santa na Basílica de São Pedro (Joaquim de Sequeira Nunes, Vida, ações e reações dos Papas de São Pedro a Bento XVI, São Paulo, 2007).
Papa Francisco com a Bula Spes non Confundit, “a esperança não decepciona” (Rm 5,5)de 9 de maio de 2024, proclama a celebração do ano jubilar para o ano 2025. Com tal título o Romano Pontífice ajuda o fiel a compreender que a esperança move o coração da pessoa a confiar em Deus e reforça a coragem para enfrentar as adversidades. Pois, como diz o Papa: «no coração de cada pessoa, encerra-se a esperança como desejo e expetativa do bem, apesar de não saber o que trará consigo o amanhã» (Papa Francisco, Spes Non Confundit, 9 de maio 2024, n. 1).
A esperança não decepciona segundo São Paulo «porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado» (Rm 5,5). A esperança nesse sentido brota e se sustenta no amor de Deus, com o qual a nossa esperança se sente segura, pois aquele que nos ama não nos frusta e nem nos abandona (cf. Eclo 2,10). Pois, como sublinha Papa Francisco: «a esperança nasce do amor e funda-se no amor que brota do Coração de Jesus trespassado na cruz […]. Com efeito a esperança cristã não engana nem desilude, porque está fundada na certeza de que nada e ninguém poderá jamais separar-nos do amor divino» (Papa Francisco, Spes Non Confundit, 9 de maio 2024, n. 3; cf. Rm 8,35-39). Por isso que mesmo diante das dificuldades e dos perigos a esperança permanece viva e sustentada na fé e na caridade impulsiona a pessoa a lutar e a avançar na vida no labor dessa e da sequela Christi (cf. Papa Francisco, Spes Non Confundit, 9 de maio 2024, nn. 3-4). Pois, em Cristo somos peregrinos da esperança. Por isso, a peregrinação aos lugares sagrados é um elemento fundamental do ano jubilar. Sendo assim, os fiéis são convidados a peregrinar aos lugares sagrados como Roma, Terra Santa e outras circunscrições eclesiásticas como a catedral ou outras igrejas e lugares santos designados pelo ordinário do lugar para fazer uma experiência intensa do amor e da misericórdia do Pai, bem como para fortalecer a fé e crescer na esperança.
O ano jubilar de 2025 teve seu início no dia 24 de dezembro de 2024 com a abertura pelo Papa Francisco da porta Santa na Basílica de São Pedro no Vaticano. Nas Igrejas particulares a abertura do ano jubilar será celebrada no dia 29 de dezembro 2024 em todas as catedrais e cocatedrais. Tal celebração será precedida da peregrinação de uma Igreja escolhida até a Catedral como sinal de esperança que une os fiéis. O encerramento do ano jubilar nas Igreja particulares será no dia 28 de dezembro 2025 e na Basílica de São Pedro na Epifania do Senhor no dia 06 de janeiro de 2026. Que possamos viver com intensidade esse ano jubilar para sermos fortalecidos na fé, robustecidos na esperança e solícitos na caridade.
Aproveito da ocasião para agradecer por caminharmos junto no ano de 2024. Também desejo um fecundo e abençoado ano de 2025.
Comunicados:
31 de dezembro – Aniversário natalício de Pe. Rogério Diesel, Provincial.
Fraternalmente,
Padre Rogério Diesel, CSCh – Superior provincial