A primeira escola de caridade
Síntese cronológica da vida de Padre Antônio e Padre Marcos Cavanis - Parte 03
Publicado em 12/11/2014

Na foto a imagem dos dois irmãos, criada a partir da "máscara mortuária".

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1804

Em janeiro de 1804, nasceu a primeira escola de caridade Cavanis com um professor salariado e 15 alunos. Foi um ato de coragem com que os Servos de Deus anteciparam a fundação das "escolas públicas" por parte do Estado e iniciaram uma obra de saneamento social e espiritual começando de onde a necessidade era mais urgente. 

E assim se decidiu também sua orientação definitiva para a escola, com preferência particular para com os pobres. (Doc. X, pp. 387-391). As obras que seguiram, como o início da tipografia e a fundação do Instituto Feminino para as meninas pobres e abandonadas, foram outras iniciativas que, interpretando o sofrimento histórico de tantas famílias, providenciaram às dramáticas necessidades de seus filhos um trabalho digno e honesto para viver. 

1814

Aos 11 de abril de 1814, Napoleão abdicou sem condições e o vice-rei Eugênio teve de ceder Veneza e o Vêneto com a Lombardia à Áustria. 

O novo governo imperial começou a levar para frente em todo o território conquistado, uma série de reformas, muitas delas dignas de encômio. A nós interessam as reformas escolares que tiveram o mérito de organizar as escolas elementares e dar aos estudos um marco de grande seriedade.

As escolas Cavanis, que, como dissemos, tinham antecipado as iniciativas do governo austríaco para o povo, se acharam muito cedo perseguida pela nova legislação que desenvolvia e impunha a todos indistintamente e, note-se bem, pela primeira vez na história de Veneza que se gloriava neste assunto de uma antiga tradição de liberdade - um programa de reformas escolares estatal dignas de elogio, mas aplicadas numa visão centralizadora e estatal que se propunha, de um lado, controlar e, do outro, canalizar toda iniciativa particular para que segui-se de acordo com os critérios que haviam sido estabelecidos pelo governo. 

Lembremos alguns destes critérios controversos que interessam para o nosso fim: Impedir quanto mais possível os estudos superiores aos pobres e favorecer os dos ricos e nobres. Como conseqüência o ensino dado aos pobres devia se limitar "aos conhecimentos primários que são próprios de sua condição" e que eram oferecidos nas elementares inferiores. 

Os Cavanis, sem partir de premissas técnicas, mas iluminados só pela caridade evangélica, se opuseram a esses critérios, eles que inclusive vinham da classe nobre: suas escolas deviam ficar abertas também para os pobres até nos cursos superiores, sem exclusão porém, para as outras categorias sociais. Para eles, afinal, não existem categorias sociais, mas só juventude necessitando de educação cristã. Então o título suficiente para entrar em suas escolas de caridade e gozar dos cuidados paternos oferecidos no mais total desinteresse, era só necessitar de educação. (Doc. X, p. 399). 

Por estas razões eles, os irmãos Cavanis, se opuseram com toda a energia as pressões e imposições, as vezes humilhantes do governo, que pretendia dar às suas escolas o marco classista sob o distintivo da pobreza e abandono. 

Está certo que os pobres precisam mais de educação: e os Cavanis afirmam repetida e decididamente que seu plano "é dirigido a atender comumente, mas não exclusivamente, aos pobres, sendo que também fora da classe dos pobres há muitos que carecem bastante da educação doméstica" (ib., pp. 399-400, 406-407). 

Deve-se considerar mérito dos Cavanis ter aplicado em suas escolas o conceito da gratuidade e do completo desinteresse. Se a gratuidade tem sua motivação fundamental nas virtudes teologais, como se evidenciará em seguida, ela se baseava também no princípio, defendido heroicamente por toda a vida na pobreza e nos incômodos, que os pobres não deviam sentir a humilhação e o peso de sua pobreza, e os ricos e nobres deviam aprender a viver junto com eles sem orgulho ou indignação. Assim os Cavanis, sob o impulso da caridade sobrenatural, anteciparam aquele processo de movimentação social que é uma das características dos nossos tempos (Doc. X, p. 399). 

Mas, além destes aspectos sociais e pedagógicos, deve-se também sublinhar o valor do desinteresse de retorno financeiro, antes de tudo como exercício corajoso de continuada confiança na Providência Divina, como instrumento libertador de eventuais condicionamentos ao dinheiro. 

Se além de tudo isso se tem presente a luta sustentada pelos Servos de Deus, Antônio e Marcos, para obter o estudo filosófico e teológico em prol de seus clérigos, constrangidos pela intromissão do governo a freqüentar as escolas no seminário, se torna ainda mais evidente a soma de virtudes exercidas e de méritos adquiridos pelos dois irmãos. 

Deve-se enfim notar como neste caminho cheio de dificuldades, eles sempre procederam com a máxima simplicidade de ânimo, sem assumir atitudes contestadoras ou revolucionárias, sem ostentação ou rebeliões, na mais aberta fidelidade à Igreja e ao Sumo Pontífice; com humildade, paciência, caridade. (Doc. X, p. 400). 

Conteúdo extraído do livro: Carisma e Espiritualidade dos Veneráveis irmãos Antônio e Marcos Cavanis - Documentação da Causa de Beatificação dos Fundadores.











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